Geral
Imunidade contra a COVID-19 cai 5 meses após a segunda dose vacinal e é restituída pela terceira dose
Estudo da UFOB mostra a importância da vacinação contra a COVID-19 e da administração da terceira dose.
Objetivos do estudo
O principal objetivo do estudo foi verificar a pertinência da inclusão de uma terceira dose na política pública brasileira (federal) de vacinação contra a CIVID-19. Os objetivos específicos foram i) verificar o percentual de casos de COVID-19 entre os vacinados e não vacinados contra a COVID-19; ii) verificar quanto tempo dura a imunidade baseada em anticorpos induzida por duas doses de CoronaVac e AstraZeneca; iii) verificar o efeito da terceira dose com a vacina da Pfizer na imunidade contra a COVID-19 e iv), comparar a qualidade da imunidade induzida pela vacinação com aquela induzida pela doença. Esse tipo de pesquisa é fundamental para verificação da pertinência cientifica de políticas públicas e pode influenciar decisões de gestores públicos.
Equipe e parcerias
O trabalho foi coordenado pelo Prof. Dr. Jaime Henrique Amorim, biomédico virologista do Centro das Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Federal do Oeste da Bahia (CCBS-UFOB), no contexto da tese de doutoramento de Jéssica Pires Farias (biomédica), também do CCBS-UFOB. Também participaram do estudo Mayanna Moreira Costa Fogaça (biomédica) e Patrícia da Silva (biomédica) e Itana Vivian Rocha Santana (bióloga). Os controles e parte dos reagentes utilizados no desenvolvimento e validação das tecnologias foram adquiridos com parceiros de Biomanguinhos (FIOCRUZ), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). O estudo foi realizado com amostras de soro coletadas de indivíduos residentes na cidade de Barreiras, Bahia, no período de setembro a novembro de 2021, em parceria com a Vigilância Epidemiológica municipal.
Prof. Dr. Jaime Henrique Amorim
Jéssica Pires Farias
Métodos
O estudo foi realizado com amostras de soro coletadas de 210 indivíduos, dos quais 63 (30%) eram do sexo masculino e 147 (70%) eram do sexo feminino, com idades variando entre 13 e 66 anos. Os participantes tinham diferentes históricos de vacinação e de contato com o vírus causador da COVID-19. O Ensaio Imunoenzimático (ELISA) foi utilizado para fornecer os dados de níveis de anticorpos contra a COVID-19 presentes no sangue. Todas as amostras foram analisadas no Laboratório de Agentes Infecciosos e Vetores (LAIVE), do CCBS-UFOB.
Resultados
Os resultados revelaram que o número de indivíduos acometidos pela COVID-19 foi muito menor entre os vacinados, mesmo com apenas uma dose, indicando que as vacinas são altamente protetivas contra a COVID-19. No entanto, foi observada uma forte tendência de diminuição a quase zero dos níveis de anticorpos anti-COVID-19 no sangue em 4-6 meses após a administração da segunda dose vacinal. Em contraste, a terceira dose com a vacina Pfizer após a imunização feita pelo regime vacinal da Coronavac/Sinovac induziu um restabelecimento dos níveis de anticorpos. Os resultados do estudo indicam que as vacinas são necessárias para induzir um status imunológico robusto nos indivíduos, que é mantido, restaurado ou melhorado pela administração da terceira dose.
Importância e perspectivas futuras
De acordo com Jessica Pires, autora do estudo, os resultados indicaram que a terceira dose da vacina da Pfizer reestabelece os níveis de anticorpos vistos pouco tempo após a segunda dose. A eficácia das vacinas CoronaVac e AstraZeneca também foram testadas, segundo comenta o coordenador do estudo Jaime Amorim. “A terceira dose é fundamental para manter elevado o status imunológico humoral, senão ele cai muito e pode abrir oportunidade para infecções. Nós também verificamos que as vacinas da CoronaVac e AstraZeneca são eficientes em reduzir substancialmente as infecções. A frequência de infecção nas pessoas que tomaram vacina, ainda que apenas uma dose, apresentou-se estatisticamente menor do que nas que não se vacinaram”. O estudo, publicado na renomada revista cientifica Journal of Virology, da Sociedade Americana de Microbiologia, discute a possível necessidade de doses de reforço a cada 4-6 meses, algo que já perece ter influenciado o Ministério da Saúde, que publicou nota técnica recomendando uma quarta dose de vacina contra a COVID-19, começando pelos idosos.
O próximo passo dos pesquisadores é investigar a duração da imunidade contra Covid-19 para se ter clareza sobre a necessidade de reforços da vacina a cada cinco ou seis meses. Os autores explicam que esse fenômeno acontece porque a imunidade depende muito do tipo de formulação vacinal. No caso dos vírus respiratórios, as vacinas usadas atualmente induzem imunidades menos longevas e necessitam de doses de reforço anuais, como é o caso da vacina contra Influenza. “Tentaremos entender também o porquê de a epidemia com a variante Omicron acontecer num cenário em que a maior parte da população já foi imunizada”, explica Amorim.
Financiamento
As pesquisas contam com apoio financeiro majoritário do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), no âmbito da Rede Vírus, por meio da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), com orçamento de 750 mil reais. Além disto, também apoiam as pesquisas o Instituto Serrapilheira e o Consorcio Mutifinalitario do Oeste da Bahia.