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Estudo mostra que a terceira dose vacinal é essencial para reduzir a susceptibilidade à variante Ômicron

publicado: 31/01/2023 07h47, última modificação: 31/01/2023 07h52
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Estudo mostra que a terceira dose vacinal é essencial para reduzir a susceptibilidade à variante Ômicron

 

Visão geral 

Um novo estudo coordenado pelo Prof. Dr. Jaime Henrique Amorim, biomédico do CCBS-UFOB, acompanhou uma epidemia de COVID-19 causada pela variante Ômicron do SARS-CoV-2 em um cenário de vacinação extensiva na cidade de Barreiras, extremo Oeste baiano.  O objetivo da pesquisa foi entender o que determinava a suscetibilidade individual à COVID-19 no cenário de estudo. Para tanto, foi investigada a dinâmica das respostas imunes de indivíduos com agravos respiratórios (i) que não foram vacinados e (ii) que receberam pelo menos uma das doses das vacinas contra a COVID-19 (Astrazeneca, Coronavac, Janssen e Pfizer). Os resultados revelaram que a variante Ômicron foi a causadora da epidemia acontecida na região na época da realização do estudo. Além disso, o estudo mostra que o aumento das respostas imunes após uma terceira dose de vacina reduz a suscetibilidade à COVID-19 causada pela variante. Segundo Jessica Pires, autora do estudo, tais achados apoiam as atuais políticas de saúde pública baseadas na administração contínua de três ou mais doses de vacina tanto para prevenção da doença e suas sequelas quanto para o surgimento de novas variantes do SARS-CoV-2 capazes de escapar da imunidade induzida pelas formulações vacinais em uso atualmente no Brasil. O coordenador do estudo ainda afirma que a população de estudo foi imunizada com diferentes esquemas de vacinação e que ainda assim, o efeito da terceira dose da vacina foi observado independentemente das formulações vacinais que os pacientes receberam na primeira e segunda doses.

Equipe e parcerias

O trabalho foi desenvolvido no contexto da tese de doutorado de Jéssica Pires Farias (biomédica), do Programa Multicêntrico de Pós-graduação em Bioquímica e Biologia Molecular da UFOB, Universidade Federal do Oeste da Bahia. Contou ainda com a colaboração das estudantes de mestrado Mayanna Moreira Costa Fogaça (biomédica) e Ludimila Mesquita Moreira (biomédica). Também contou com a participação de estudantes de Iniciação científica como Ruth Dalety da Silva Brito (biomedicina). Pesquisadores de Universidades parceiras como UNIFESP, USP, UESC, UFMG, UNB e Universidade de Columbia também participaram do estudo. Amostras foram coletadas de 286 indivíduos com agravos respiratórios da cidade de Barreiras, no período de Janeiro a Março de 2022, em parceria com a Vigilância Epidemiológica municipal. Todas as amostras foram analisadas no Laboratório de Agentes Infecciosos e Vetores, do CCBS-UFOB e em laboratórios da Universidade de São Paulo e Universidade Federal de São Paulo.

 

 Resultados

A população do estudo foi de 286 pacientes com sintomas gripais (109 homens e 177 mulheres, com idades variando de 7 meses a 84 anos), dos quais foram coletados 286 swabs de nasofaringe e 239 amostras de sangue, bem como informações de seus histórico de vacinação contra a COVID-19. O Ensaio Imunoenzimático (ELISA) foi utilizado para determinar os níveis séricos de anticorpos antivirais. Testes de neutralização foram realizados na Universidade de São Paulo e Universidade Federal de São Paulo, utilizando as linhagens Wuhan e Ômicron. As técnicas de RT-qPCR e sequenciamento genético foram utilizados na UFOB para determinação do diagnóstico e variante circulante, respectivamente. Os resultados indicaram que a vacinação em geral não reduziu o número de indivíduos infectados por Ômicron, mesmo com um aumento da resposta imune nos indivíduos não infectados vacinados. Entretanto, os resultados mostraram que o número de indivíduos infectados só foi reduzido no grupo que recebeu três doses da vacina, o que indica que a suscetibilidade dos indivíduos à variante Ômicron diminuiu de fato após a terceira dose. A pesquisa também mostra que essa suscetibilidade reduzida foi baseada em uma resposta imune aumentada, com níveis mais altos de anticorpos antivirais séricos, incluindo aqueles capazes de neutralizar o vírus e impedir a infecção.

 

Importância e perspectivas futuras

A variante Ômicron (B.1.1.529) causou epidemias em regiões do mundo nas quais a maioria da população foi vacinada. Neste estudo, buscamos entender o que determina a suscetibilidade do indivíduo à Ômicron em um cenário de ampla vacinação, considerando como vacinados aqueles que receberam pelo menos uma dose vacinal. Este estudo mostra que o aumento das respostas imunes após uma terceira dose de vacina reduz a suscetibilidade à COVID-19 causada por Ômicron. De fato, o atendimento as políticas públicas de vacinação, incluindo suas doses de reforço fazem a diferença. Deixar de atender aos chamados para reforço com doses adicionais torna os indivíduos susceptíveis, pois as doses de reforço modulam a resposta imune para um status com maior capacidade de controlar o virus e proteger o indivíduo.  Os resultados apresentados neste estudo são úteis para futuras formulações de políticas de vacinação contra a COVID-19. O estudo gerou uma publicação científica em uma das revistas mais renomadas na área, a Journal of Medical Virology, de alto impacto científico, com IF 20.49. Os pesquisadores estão dando continuidade ao entendimento da dinâmica imunológica humoral da população após a administração da quarta dose vacinal frente às novas subvariantes de Ômicron e em breve publicarão novos estudos.

Financiamento

A pesquisa contou com apoio financeiro do Ministerio da Ciencia, Tecnologia e Inovacoes, Financiadora de Estudos e Projetos, CNPq, Instituto Serrapilheira, CAPES e FAPESP.