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Estudo revela como variantes da COVID-19 desafiam a imunidade de crianças e adolescentes
Um estudo brasileiro avaliou a imunidade de crianças e adolescentes diante das variantes recentes da COVID-19. Coordenado pelo professor Jaime Henrique Amorim (UFOB), em colaboração com pesquisadores da USP, UNIFESP, Hospital Israelita Albert Einstein e UFPE, ele acaba de ser publicado na Expert Review of Vaccines, uma das revistas internacionais mais importantes da área de vacinologia
A pesquisa evidenciou que crianças e adolescentes vacinados apresentam bons níveis de anticorpos contra o vírus ancestral, demonstrando a capacidade das vacinas em induzir memória imunológica para aquela cepa. Entretanto, a potência desses anticorpos para neutralizar BA.1 e, especialmente, JN.1 caiu de forma marcante, consequência do acúmulo de mutações nessas variantes, que remodelam regiões-chave da proteína Spike. Essa redução revela uma lacuna importante na proteção humoral (baseada em anticorpos) contra as variantes atualmente dominantes do SARS-CoV-2.
Metodologia
O estudo avaliou a resposta de anticorpos de crianças e adolescentes que receberam vacinas de primeira geração, ainda baseadas no vírus original de 2020. Para isso, foram testados três vírus: Wuhan (ancestral), Omicron BA.1 e Omicron JN.1, variante predominante no período do estudo. A equipe também realizou uma análise computacional abrangente para entender como as mutações dessas variantes alteram os “alvos” reconhecidos por anticorpos neutralizantes.
Os achados não significam que crianças estejam desprotegidas, uma vez que a imunidade contra vírus respiratórios envolve camadas adicionais, como linfócitos T e B de memória, que não foram avaliados no estudo e podem continuar contribuindo para proteção contra formas graves da doença. Ainda assim, os resultados reforçam a urgência de atualizar as formulações pediátricas para acompanhar a evolução viral.
Sinal de alerta
Segundo o coordenador do estudo, professor Jaime Henrique Amorim, do Instituto de Virologia do Oeste da Bahia (UFOB), os dados revelam um alerta estratégico para o país. “Nossa análise mostra que o vírus evoluiu muito além da capacidade das vacinas de primeira geração acompanharem. A queda abrupta no número de epítopos neutralizantes conservados entre o vírus original e as variantes recentes — de mais de 460 para apenas 41 na JN.1 — evidencia o tamanho do salto antigênico que estamos enfrentando.”
Para Amorim, os resultados ligam o sinal de alerta na saúde pública, “Atualizar as vacinas pediátricas deixou de ser apenas recomendação: tornou-se uma necessidade urgente para reduzir a vulnerabilidade das crianças e evitar que elas permaneçam como um reservatório de transmissão capaz de impulsionar o surgimento de novas variantes.”
O artigo“ Antigenic drift in SARS-CoV-2: diminished vaccine protection in pediatric populations against Omicron and its JN.1 subvariant” pode ser acessado aqui
