Histórico do Curso

De há muito, alguns professores vinculados ao Centro das Humanidades da Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB) acalentam a vontade de criar um programa de pós-graduação na grande área das ciências humanas e Sociais. Seja pelo desejo mesmo de incidir ativamente na realidade social da Região Oeste da Bahia, seja pelo imperativo que representa, na carreira docente, a ministração de aulas e a orientação na pós-graduação. Então, motivados por esses quereres, verdadeiras potências que movem a vida e que lançam fora os receios, esses professores e professoras decidiram começar os diálogos que, no início de 2018, fizeram nascer a proposta do Programa de Pós-Graduação em Ciências Humanas e Sociais (PPGCHS) da Universidade Federal do Oeste da Bahia.

Vinculado às Humanidades e às Ciências Sociais em uma chave inter, multi e transdisciplinar, a proposta do PPGCHS tem na publicação da Portaria 21 de 28de março de 2016 uma de suas gêneses. Essa portaria instituiu uma comissão de professores para pensar em um programa de pós-graduação “interdisciplinar do centro das humanidades”. Dos docentes que foram nomeados por essa portaria, apenas um não compõe a atual proposta de criação do PPGCHS.

Destacamos, a seguir, os nomes dos docentes que participaram da referida comissão:

- Carlos Henrique Lucas Lima

- Leriane Silva Cardozo

- Pablo Antônio Iglesias Magalhães

- Cláudio José de Oliveira dos Reis (não participou do grupo de professores responsáveis pela proposição do PPGCHS)

- Erick Samuel Rojas Cajavilva

- Tânia Aparecida Kuhnen

É para nós, portanto, uma alegria enorme verificar que, depois de dois largos anos, do grupo inicial permanecem praticamente todos os nomes engajados na criação do Programa de Pós-graduação em Ciências Humanas e Sociais. Isso demonstra o desejo desses professores de realmente fazer saltar à realidade algo que, em seu início, talvez tenha soado, a alguns, tão abstrato e porque não dizer impossível. Após um período de encontros intensos, o grupo de professores nomeados pela portaria 21, no entanto, foi dissolvido por motivos, em grande medida, de incompatibilidade de agenda. No ano de 2017, em diversas ocasiões, o professor Carlos Henrique Lucas Lima, coordenador do APCN/PPGCHS, retomou os encontros com a professora Leriane Cardozo visando a, uma vez mais, pensar acerca da proposição de um programa de pós-graduação. Além de se encontrar com a profa. Leriane, o prof. Carlos manteve encontros e conversações com docentes de outras instituições igualmente interessados em dar vida ao PPGCHS. Destacam-se as reuniões e conversas informais com a professora Cacilda Ferreira dos Reis, que aparece nesta proposta como docente colaboradora, e com a professora Marilde Queiroz Guedes, igualmente na condição de colaboradora, e que, há muito tempo, tem cooperado em atividades acadêmicas promovidas pelo grupo de professores que subscreve o projeto do PPGCHS.

Devido ao espaço, não cabe aqui retomar, em seu pormenor, essa linha do tempo. Vale dizer, no entanto, muitos outros encontros houve, os quais foram potentes e profícuos. Tanto isso é verdadeiro que, agora, não apenas conseguimos apresentar uma proposta de programa de pós-graduação que julgamos sólida e socialmente relevante, como, ainda, reunimos uma extensa equipe de docentes que se dispôs a participar, em regime permanente e em colaboração, do PPGCHS. E docentes não só da UFOB, mas ainda de outras universidades, tais como Universidade do Estado da Bahia (UNEB/Barreiras), Instituto Federal da Bahia (IFBA/Barreiras), Universidade Federal do Vale do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), Universidade Federal do Rio Grande (FURG) e Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Mas mais que elencar nomes e situações que colaboraram com a proposta do PPGCHS, queremos destacar o engajamento do grupo que assina este projeto. Seu engajamento e, mais do isso, sua paixão pela pesquisa e pela docência em nível de pós-graduação são imensuráveis. Entendemos que um programa de pós-graduação se faz muito mais com paixão e com desejo de fazer tremer velhas formas de pensamento que com outra coisa. E tais características, há um bom tempo atrás, já são, pela equipe de docentes aqui descrita, demonstradas.

O Projeto do PPG em Ciências Humanas e Sociais (PPGCH-UFOB) nasce de uma articulação interdisciplinar de um grupo de professores organizados em torno de temáticas relacionadas à linguagem, à cultura, à sociedade, às relações etnicorraciais, às sexualidades e os gêneros dissidentes, à sustentabilidade, ao direito à terra e, mais do que tudo, ao respeito intransigente aos Direitos Humanos. Esses temas e motivos orientam as pesquisas, debates públicos e o fazer pedagógico cotidiano dos docentes do PPGCHS, como se pode observar pelas suas produções intelectuais. Os cursos que ministram, os textos que escrevem, seja em periódicos seja em veículos midiáticos de grande circulação, vão ao encontro tanto da Área de Concentração (Sociedade e Cultura) quanto das linhas de pesquisa (Linguagem, cultura e poder & Sociedade, políticas públicas e sustentabilidade) do PPGCHS/UFOB.

As temáticas que orientam, ou, em uma crítica de(s)colonial, “dão o Sul” para o PPGCHS, refletem formas complexas de compreender a realidade e partem do pressuposto de que a vida não cabe nas apertadas caixas disciplinares – e, consequentemente, de explicação fácil – fornecidas pelos fazeres universitários tradicionais. A proposta que aqui se apresenta, e que está em consonância com os históricos de pesquisa do corpo docente, é interdisciplinar, pois integra os conhecimentos produzidos no seio da Universidade, não esquecendo, obviamente, daqueles outros saberes/conhecimentos que se fazem para além dos marcos canônicos da ciência gestada na Modernidade, os quais, como se sabe, muitas vezes são reputados como menores ou completamente irrelevantes.

A proposta, é resultado, ainda, e em grande medida, das pesquisas desenvolvidas na Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB), em especial aquelas circunscritas a grupos de pesquisa e projetos de investigação ligados ao Bacharelado Interdisciplinar em Humanidades (BIH), curso que dá suporte à concepção epistemológica desta Proposta. Esse curso de graduação, não conferente de título profissional, tem por objetivo, por um lado, ofertar a seu estudante uma formação ampla, com consistente repertório teórico humanístico, e, por outro, apresentá-lo a problemas e temas que, de há muito, preocupam o ser humano, como, por exemplo, as relações étnico-raciais, a sexualidade, a desigualdade econômica, a diversidade linguística, as diferenças regionais e nacionais, dentre outros, os quais podem ser verificados na leitura dos componentes apresentados aqui. E é exatamente esse o mesmo impulso epistemológico e político que anima os proponentes deste Curso de Mestrado: integrador, interdisciplinar e insubordinado. Pensou-se, assim, a partir de eixos temáticos e teóricos amplamente conhecidos e operados pelo corpo docente que ora subscreve o Projeto do PPG em Ciências Humanas e Sociais. Tanto a Área de Concentração, “Sociedade e Cultura”, quanto os componentes curriculares guardam relação com a estrutura disciplinar – ou melhor, interdisciplinar – do já mencionado Bacharelado Interdisciplinar em Humanidades (BIH). O Projeto, nesse sentido, encontra sua gênese em preocupações investigativas e temáticas já em curso, seja no próprio BIH como, ainda, e de maneira ampliada, na Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB), cujo marco teórico-político fundador assenta em uma visada interdisciplinar e de forte preocupação social.

No BIH há componentes curriculares que discutem, de maneira não hierárquica, a contemporaneidade, a cultura, a sociedade, o poder, a linguagem e a subjetividade, dentre outros temas. Por esse motivo, portanto, é que a área de concentração e as linhas de pesquisa aqui propostas ancoram-se nesses temas. O que queremos evidenciar, dessa forma, é, por um lado, o comprometimento teórico desta Proposta com o Bacharelado Interdisciplinar em Humanidades e, por outro, o envolvimento social e político do grupo de pesquisadores que apresenta este Projeto de PPG com a interdisciplinaridade e com a democratização da educação, questões essas centrais para o BIH e, como se asseverou anteriormente, para a UFOB. Com o geógrafo e intelectual baiano Milton Santos advogamos uma revolução no modo de conceber o mundo de modo a desestabilizar e, portanto, destituir as hierarquias sociais, culturais e econômicas que impedem o desenvolvimento das gentes, em especial daquelas pessoas localizadas à margem da Modernidade e de seu projeto de desenvolvimento.

Elegeu-se o eixo “sociedade e cultura” como ponto de partida teórico porque tais problemáticas, além de não poderem ser apreendidas senão por intermédio de uma mirada interdisciplinar, resumem os interesses de pesquisa das pessoas proponentes deste PPG. Mas, mais do que isso, porque os estudos culturais, aqui compreendidos como uma ferramenta de desconstrução da realidade – por vezes opressora, na intersecção que estabelecem com a sociedade, é a mola mestra, assim entendemos, de um grande projeto científico e político que este corpo docente tem para a Região Oeste da Bahia. Um projeto de transformação e, mais agudamente, de real incidência na vida das populações adstritas à influência da única universidade federal da região. Como afirmou Gayatri Spivak, não podemos rejeitar, “com um floreio”, a tarefa crítica e política dos intelectuais, como se isso não nos pertencesse.